Estive para escrever este texto no sábado, pouco depois do jogo que disputámos no Pico da Pedra. Não o fiz porque sempre me ensinaram que, em alguns casos, o melhor é não escrever com o coração, ou melhor, com as emoções à flor da pele.
Não foi fácil digerir o que aconteceu na manhã de sábado, embora aos treinadores e directores caiba tirar ilações de tudo o que se passou, sempre com a cabeça fria e olhando para o que de melhor se viu, esquecendo o pior.
No entanto, dói, e de que maneira, ver os nossos “meninos” por terra a chorar, alguns compulsivamente, pelo que tinha acabado de acontecer. A revolta tem, no nosso caso, de dar lugar à capacidade de motivar um grupo que estava claramente abatido.
Perdoem-me o desabafo inicial, vamos então ao que interessa: o jogo.
Chegámos ao Pico da Pedra motivados. Era o início da segunda volta do campeonato e sentimos que, a cada jornada, estamos melhor. Mais entrosados, praticando melhor futebol – acreditem no que digo porque tenho visto outras equipas jogar e não tenho assistido a muito melhor, neste escalão – e, acima de tudo, com maior atitude.
Jogámos de igual para igual com todos. Esquecemos o tamanho dos adversários e vamos para “cima deles” como se tratasse de uma qualquer final da Liga dos Campeões. Sábado foi igual, pelo menos na primeira parte. Encarámos o Vitória do Pico da Pedra como uma equipa da nossa divisão, e é isto que ela é.
Começamos personalizados, a fechar espaços e a trocar a bola, a ganhar duelos, enfim deixámos, mais uma vez, o adversário atordoado.
Olhava para o jogo com orgulho do que estava a ser feito, apesar da semana de trabalho não ter sido propriamente boa. Mas, enfim, todos nós temos os nossos momentos maus.
A cada lance renovava o sentimento de que era possível levar dali alguma coisa. Os incitamentos que saiam do banco eram precisamente para isto. Motivar é preciso. Uma palavra de carinho no momento certo funciona melhor do que uma finta. Os atletas reagem e vão em busca do que pretendemos.
Mais uma vez, quando estamos por cima no jogo sofremos um golo. É natural, o querer é tão grande que, por vezes, acaba por ter o efeito contrário. Ao olhar para os jogadores senti, contudo, que eles iam virar o quadro. Estavam com “ganas”, como se diz em espanhol, e a verdade é que, de penalty, empatamos. Ao intervalo, só não estávamos a vencer por manifesta infelicidade.
Começava a segunda parte e foi então que veio o pior do jogo. Sofremos três golos, alguns dos quais frutos de erros de alguém que nada tem a ver com o Santa Clara. Os nossos “meninos” sentiram a injustiça mas foram homens na hora de a aceitar. Não entraram em discussões e continuaram a lutar, mesmo quando já se sentia que pouco havia a fazer. Uma palavra para João Cunha, Ronaldo, Gonçalo Cabral, Hugo, João Martins, Henrique, Lucas, Rui e Gonçalo Gomes (os atletas que alinharam sábado): que grandes foram estas crianças com idades entre os oito e os dez anos. A frieza com que encararam algumas decisões foi notável.
Por isto digo com orgulho: perdemos, mas perdemos de cabeça erguida. Dá gosto estar neste grupo de trabalho.
Nota: O texto de hoje está escrito mais na primeira pessoa, porque foi difícil desligar-me do coração. Por dever tenho de escrever em nome de todos os responsáveis. Perdoem-me, mas hoje não consegui. Malta, acreditem, se mantiverem esta atitude terão um futuro risonho. Lutar contra as adversidades é uma virtude que só está ao alcance de alguns.
O Santa Clara alinhou com: João, Ronaldo Mendes, Gonçalo Cabral, Hugo Laranja, João Martins, Henrique Farias e Lucas. Jogaram ainda: Rui Oliveira e Gonçalo Gomes.
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
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